Brincando com coisas erradas

Estive pensando... Brincadeiras podem atrair coisas estranhas, e digo isto por lembrar de algo que aconteceu com um leitor de meu antigo blog.



Seu nome é Roger e seu parceiro de história seu amigo, que ele mesmo chamou de "Pedro".

A seguir o relato de Roger:


Trabalhávamos como enfermeiros em um hospital no ano de 2011, lembro me bem, pois após este episódio meu parceiro de trabalho mudou de profissão.

Pedro, sempre foi brincalhão, adorava assustar os pacientes dizendo que aquele hospital era assombrado, talvez as tantas brincadeiras fossem uma maneira de enganar o sono que batia sempre por volta das 3 da manhã, horário em que estávamos no hospital e que aconteciam as mais diversas bizarrices, muitas delas é claro, produzidas por ele mesmo. 

O "safado" rsrs, espalhava entre pacientes e funcionários, que haviam fantasmas pelos corredores, procurando um médico para ajuda-los pois estavam com muita dor. Pedro se baseava na noite em que recebemos um grupo de pessoas que haviam se acidentado na estrada naquela madrugada, entre  uma van com time de basquete aparentemente embriagados e um casal numa moto. Foi espantoso aquilo tudo, pois mesmo nós que estávamos acostumados a ver este tipo de situação ficamos aterrorizados com a situação, onde todos acabaram mortos devido aos ferimentos. Talvez o maior drama tenha sido o casal, pois chegaram unidos por uma barra de ferro que estava atravessa pela barriga do rapaz e saindo pelas costas da garota. Desde então, Pedro repetia que durante a noite em certo horário era possível ouvir uma moto andando pelos corredores mais afastados do hospital, alguns pacientes reclamavam do barulho que se fazia de pessoas correndo de um lado para o outro em suas portas, como se tivessem jogando mesmo basquete, era possível ouvir a bola quicando no chão segundo eles.

Sempre ignorei toda esta falacia, pois sabia que eram grandes lorotas espalhadas por um homem travesso, e sabia que a meta de Pedro era me pegar em algum tipo de pegadinha assustadora, o que seria difícil, pois já estava esperando por isso.

Pois bem, este dia havia chegado, era por volta das mesmas 3h da manhã, quando começavam as peraltices que as coisas começaram a ficar estranhas. Houve naquele dia, um apagão no quarteirão, porém os quartos eram mantidos por geradores de energia para que os equipamentos não fossem desligados prejudicando os pacientes. Os quartos funcionavam com luz fraca, porém os corredores estavam completamente em escuridão, o que tornava ainda mais tenebroso com o eco que se fazia até com nossa respiração. De certo que o apagão não foi provocado por Pedro, mas era a oportunidade perfeita para me pegar ou assustar as pobres enfermeiras e recepcionistas que também trabalhavam lá.

De repente Pedro havia sumido e então meu telefone toca e lá vamos nós ver o que o dito cujo queria...
E não é que ele era bom ator? pois na ligação parecia estar mesmo assutado, pedindo para que eu fosse busca-lo pois havia caindo nas escadas dos fundos e estava sangrando muito. Bem, eu que não era besta, fui mesmo preparado para qualquer tipo de brincadeira, mas confesso que passar pelos corredores escuros com uma lanterna velha falhando as vezes e com o gemido que vinha dos quartos, me causou certo arrepio, arrepio este que não foi maior pela interrupção de um barulho ainda mais confuso, parei imediatamente para decifrar o que era, parecia de fato com o barulho que o tênis dos jogadores de salão fazem quando estão correndo a passos curtos e parando, como assovios produzidos pelo atrito da borracha dos sapatos no solo, e quando aquilo parou, vem em minha direção uma bola de basquete, rolando como se tivesse sido jogada para que eu a pegasse. 

Pronto, Pedro havia conseguido, pois nesta hora cada célula do meu corpo estava pálida de pavor, mas, após me recompor peguei a bola e joguei em direção ao escuro a minha frente, batendo ela no chão eu disse:
-Então me chamou aqui para jogar basquete a luz de velas?
E do escuro voltou a bola rolando novamente, a lanterna não revelava nada naquele lugar, então para acabar com o vicio do medo, joguei a bola para trás desta vez e fui em direção ao escuro a minha frente, tentando não demonstrar qualquer tipo de medo mas preocupado, talvez fosse algum paciente brincando comigo enquanto Pedro realmente pudesse estar machucado, o que veio a se confirmar quando cheguei as escadas. Entrei em pânico quando o pouco da iluminação de minha lanterna revelou meu amigo caído no fim da escada, então me aproximei em meio ao sangue e aos gemidos de dor, percebi que havia atravessado em sua barriga, um pedaço fino de ferro que havia se soltado do corrimão enquanto tentava se segurar durante a queda, como ele explicou com dificuldade. O pânico  tomou conta de mim, estávamos longe de todos, a escada era grande e tentar carregar Pedro seria assinar uma sentença de morte por hemorragia, sim, liguei centenas de vezes para o numero de todos que estavam no hospital, mas antes que pudesse dizer onde estávamos fui interrompido por um assovio extremamente horripilante no alto da escada, a tremedeira já era familiar naquela hora e então, la veio ela... A bola de basquete quicando degrau por degrau até chegar até mim, que estava abaixado próximo a Pedro, juro que havia perdido a capacidade de falar naquela hora, a lanterna ja piscando desligou de vez, eu só queria sair dali, seja lá o que fosse aquilo tudo, e dessa vez ficou ainda pior, pois no escuro passos começaram a descer as escadas, não podia ver, mas meus ouvidos estavam vidrados naqueles passos, degrau por degrau, cada vez mais próximos, degrau por degrau e já estava no meio da escada, degrau por degrau, e acabava ali a escada...


Eu adoraria dizer que a energia havia voltado neste momento e nada estava lá, sendo talvez fruto da nossa imaginação, mas não foi o que aconteceu. Quando os passos acabaram e o dono deles estava supostamente em minha frente, algo ainda mais agoniante aconteceu, um barulho ensurdecedor de moto atras de nós, lembro que tentei olhar, mas de fato havia uma luz de farol de moto bem próximo a nos, não parecia qualquer tipo de ameaça, pois aquele farol que nos cegava clareava todo o ambiente, buzinando loucamente como se quisesse espantar a primeira presença, e isto permaneceu por alguns segundos, até que então a energia voltou, junto com a chegada de nossos companheiros de trabalhos.
Esta foi a ultima vez que entrei naquele hospital, pois ainda pela manhã, pedi demissão daquele emprego, o que veio a ser feito por Pedro dias após sua recuperação,(recuperação feita em casa, pois Pedro também queria distancia do hospital).

Hoje não podemos deixar de imaginar o que teria acontecido se aquele casal na moto não tivesse nos protegido naquela madrugada.Pois mesmo não podendo ver quase nada entre escuridão e farol nos olhos, ambos sentiram que ali, estavam eles, querendo proteger as pessoas dos culpados pelas suas mortes...

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